SERPENTES
INFORMAÇÕES GERAIS
As serpentes são animais vertebrados, carnívoros, que pertencem ao grupo dos répteis. Elas apresentam como características principais: corpo alongado recoberto por escamas, ausência de membros locomotores, presença de língua bífida (bifurcada), trocam de pele à medida que crescem e não regulam a sua temperatura corporal, ou seja, não produzem calor endógeno, visto que são animais ectotérmicos (mais popularmente conhecidos como de sangue frio), sendo que sua temperatura corporal é regulada pela temperatura do ambiente. Habitam todas as regiões da Terra, com exceção dos polos, podendo ser aquáticas ou terrestres, fossoriais e arborícolas. Por serem animais de “sangue frio”, tem preferência por regiões de clima mais ameno, como nos trópicos.
No Brasil há representantes de 9 famílias, 75 gêneros e 321 espécies. As serpentes podem ser classificadas em dois grupos diferentes: as peçonhentas, que produzem e inoculam veneno, e as não peçonhentas. Ambas podem ser encontradas nos mais diferenciados habitat, inclusive no ambiente urbano. Existem alguns critérios básicos para a diferenciação entre serpentes peçonhentas e não peçonhentas, são eles:
1. Presença de fosseta loreal: um orifício, entre o olho e a narina da serpente, que é um órgão termorreceptor capaz de sentir o calor produzido por outros animais, auxiliando na identificação de presas e de predadores em potencial. Todas as serpentes brasileiras que possuem fosseta loreal são peçonhentas, com exceção das cobras corais, que são peçonhentas e possuem um padrão característico de anéis pretos, vermelhos, brancos ou amarelos que permitem sua identificação.
2. A presença e posição das presas (dentes inoculadores de veneno): existem 4 tipos básicos de dentição - áglifa, opistóglifa, proteróglifa e solenóglifa. A dentição áglifa caracteriza-se pela presença de dentes do mesmo tamanho, sendo estes pequenos e maciços, não havendo presa inoculadora de veneno (exemplo de serpentes com essa dentição: jibóias, sucuris, boipevas, entre outras).
A dentição opistóglifa apresenta um ou mais pares de dentes inoculadores fixos na maxila (região posterior da boca), contendo um sulco por onde escorre a substância secretada pelas glândulas de veneno (exemplo de serpentes com essa dentição: falsas-corais, muçuranas e cobras-cipó). Na dentição proteróglifa encontra-se um par de dentes inoculadores dianteiros fixos (região anterior da boca), que são pequenos e pouco se diferenciam dos demais dentes maciços e menores (dentição característica das corais verdadeiras). A dentição solenóglifa é caracterizada por apresentar dentes inoculadores localizados na região anterior da boca, são dentes longos, móveis (“dobráveis” quando a serpente fecha a boca) e completamente caniculados (exemplo de serpentes com essa dentição: jararacas e cascavéis, entre outras).
3. Padrão da cauda: as serpentes que apresentam fosseta loreal podem ser diferenciadas pelo padrão de cauda. Existem três padrões - lisa e curta, com escamas eriçadas e com chocalho. A presença de guizo ou chocalho no final da cauda é uma característica importante na identificação das serpentes do gênero Crotalus.
SERPENTES DE IMPORTÂNCIA MÉDICA EM SANTA CATARINA
O Brasil possui uma fauna de serpentes composta por cerca de 265 espécies, classificadas dentro de 73 gêneros e em 9 famílias. Destas, apenas duas famílias (Elapidae e Viperidae) reunem espécies que denominamos de peçonhentas, ou seja, aquelas que produzem toxinas em glândulas especializadas e têm aparelhos apropriados para inoculá-las, causando envenenamentos sérios no homem e animais domésticos.
São três os gêneros de maior importância médica da família Viperidae: (1) Bothrops, onde se incluem todas as jararacas; (2) Crotalus, onde a principal representante é a cobra cascavel; (3) Lachesis, do qual a serpente mais conhecida é popularmente chamada de surucucu. Na família Elapidae temos como principais representantes as cobras corais, principalmente o gênero Micrurus sp.
No estado de Santa Catarina, as serpentes de interesse médico são a Jararaca (Bothrops jararaca), Jararacussu (Bothrops jararacussu), Cascavel (Crotalus durissus) e a Coral verdadeira (Micrurus sp.).
GÊNERO MICRURUS
CONHEÇA AS ESPÉCIES
Serpentes pertencentes ao gênero Micrurus sp., da família Elapidae, são conhecidas popularmente como cobra coral ou cobra coral verdadeira. São de importância médica no estado de Santa Catarina, sendo comum os acidentes em animais e crianças. Essas cobras não são consideradas agressivas, tem hábitos diurnos, vivem em tocas ou embaixo de folhagens e só atacam quando são tocadas. Possuem uma coloração bem característica, com anéis de cores vivas e contrastantes, como vermelho, amarelo (ou branco) e preto. Quando estes anéis têm o mesmo padrão de coloração, porém são incompletos, trata-se de uma cobra coral falsa, do gênero Oxyrhopus sp., pertencente à família Colubridae. Para diferenciação de ambas temos que nos ater a duas características principais: o fechamento dos anéis e o tipo de dentição. Em um primeiro momento de observação à distância, mesmo para um especialista é difícil a diferenciação visual dos anéis, visto que o fechamento (ou não) se dá no ventre do animal, dificultando assim a identificação. Em relação à dentição, a coral verdadeira possui dentes inoculadores pequenos e fixos na região anterior da boca (dentição proteróglifa) enquanto a coral falsa possui um ou mais pares de dentes inoculadores fixos localizados na região posterior da boca (dentição opistóglifa), o que dificulta a inoculação do veneno.
Micrurus corallinus
Características: possui a cabeça preta com faixa transversal branca. Seu padrão de coloração inclui anéis pretos margeados por anéis brancos e intercalados por anéis vermelhos.
Tamanho: entre 50 cm (machos) e 60 cm (fêmeas).
Habitat: serpente com predominância no litoral das regiões sul e sudeste, em ambientes de mata e serrapilheira.
Observações: serpente de hábito fossorial, ou seja, é um animal que cava tocas no solo onde se abriga no período de repouso e nas épocas mais frias do ano. É uma serpente de importância médica, por isso, em caso de acidente o paciente deve ser encaminhado para avaliação médica.
Micrurus altirostris
Características: cabeça com uma faixa vermelha, ou laranja, sobre a qual há duas escamas pretas, que formam um desenho semelhante a uma borboleta. Apresenta, ao longo do corpo, o padrão de três anéis pretos separados por dois anéis brancos/ amarelos e limitados anéis vermelhos/ laranjas.
Tamanho: entre 60 e 80 cm.
Habitat: serpente endêmica da região sul do Brasil, sendo encontrada até o Uruguai e Argentina.
Observações: é uma serpente de hábito fossorial, ou seja, é um animal que cava tocas no solo onde se abriga no período de repouso e nas épocas mais frias do ano. É uma serpente de importância médica, por isso, em caso de acidente o paciente deve ser encaminhado para avaliação médica.
Oxyrhopus sp.
Características: padrões de coloração muito parecidos com as corais verdadeiras com a diferença de não fecharem os anéis sob seu ventre e possuírem outro tipo de dentição.
Tamanho: até 70 cm.
Habitat: é encontrada na Argentina, Uruguai e nas regiões sul e sudeste do Brasil, especialmente em área de mata.
Observações: essa serpente possui a causa fina e longa, característica que auxilia na diferenciação da coral verdadeira.
GÊNERO CROTALUS
CONHEÇA AS ESPÉCIES
As serpentes deste gênero pertencem à família Viperidae. São terrestres, robustas, pouco ágeis, coloração marrom-amarelada, medem aproximadamente 1 m. São conhecidas como cascavel, boicininga, maracambóia, maracabóia e cascavelha. Sua característica marcante é a presença do guizo ou chocalho no extremo da cauda, que nada mais é do que vestígios das trocas de pele. São animais que preferem áreas abertas, campos, regiões áridas e pedregosas. O gênero Crotalus está representado no Brasil por apenas uma única espécie, Crotalus durissus, com algumas subespécies. O acidente crotálico é responsável por cerca de 10% dos acidentes ofídicos no Brasil, mas os acidentes em Santa Catarina são raros.
Crotalus durissus terrificus
Características: presença do guizo no final da sua cauda. São serpentes robustas e de coloração semelhante a vegetação, que a auxilia na camuflagem no ambiente.
Tamanho: 1 m até 1,6 m.
Habitat: encontrada em regiões de campo aberto, como em planaltos e muito comumente em área de pasto.
Observações: cada novo segmento do guizo da cascavel representa uma troca de pele feita pelo animal (não a sua idade).
GÊNERO BOTHROPS
CONHEÇA AS ESPÉCIES
Compreende cerca de 30 espécies, distribuídas por todo o território nacional. São conhecidas popularmente por: jararaca, ouricana, jararacussu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, malha-de-sapo, patrona, surucucurana, combóia, caiçara, e outras denominações. Estas serpentes habitam principalmente zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores (paióis, celeiros, depósitos de lenha). Têm hábitos predominantemente noturnos ou crepusculares (antes do nascer do sol e após o por-do-sol). Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas, desferindo botes sem produzir ruídos. O acidente botrópico é responsável por cerca de 90% dos envenenamentos em nosso país.
Bothrops jararaca (jararaca)
Características: tem colorido muito variável desde tons castanho claros até coloração quase que completamente preta, mas são característicos os desenhos semelhantes a “V” invertido ou gancho de telefone/ headset.
Tamanho: têm corpo delgado medindo aproximadamente 1 m.
Habitat: têm grande capacidade adaptativa, ocupando e colonizando áreas silvestres, agrícolas, suburbanas e até urbanas.
Observações: popularmente conhecida como jararaca. Ágil, sobe com facilidade em arbustos e telhados baixos.
Bothrops jararacussu (jararacussu)
Características: o colorido apresenta diferenciação dependendo da idade e do sexo do animal. Quando jovens, possuem coloridos em tons castanhos, que evolui nos adultos geralmente para manchas pretas sobre fundo amarelo no caso das fêmeas e sobre fundo castanho nos machos. Os machos apresentam tamanho menor que as fêmeas.
Tamanho: são muito corpulenta, chegando a atingir 1,8 m.
Habitat: predominantemente avistada nas regiões sul e sudeste do Brasil.
Observações: popularmente conhecida como jararacussu, essa serpente pode ser considerada de maior importância médica dentro do gênero Bothrops, justamente pelo fato de produzir veneno em maior quantidade para ser inoculado, podendo levar a casos mais graves quando ocorre um acidente.
Bothrops alternatus (urutu)
Características: opresenta manchas dorsolaterais bem marcadas em forma de ferradura ou gancho de telefone/ headset de tons castanhos, margeadas de branco ou amarelo, e na parte interna, se desenha um formato similar a uma cruz o que justifica seu nome popular (cruzeira).
Tamanho: pode atingir até 1,5 m.
Habitat: no Brasil sua distribuição vai do sul até regiões do Centro-oeste e Sudeste. Vivem em campos e áreas abertas. Em Santa Catarina, é encontrada apenas na região oeste.
Observações: popularmente conhecida como urutu, urutu-cruzeiro, cruzeira.
Bothrops diporus (jararaca-pintada)
Características: a sua coloração é castanha, com manchas ao redor do corpo de cor marrom em formato de ‘V’ com um delineado bastante marcado.
Tamanho: pode ultrapassar 1,5 m.
Habitat: espécie de ampla distribuição no sul, sudeste e centro-este do Brasil, com ocorrência no oeste de Santa Catarina.
Observações: popularmente conhecida como jararaca-pintada. Tem comportamento agressivo e também contribui para o alto índice de acidentes botrópicos na região oeste de Santa Catarina.
Bothrops neuwiedi (jararaca-de-rabo-branco)
Características: serpente de pequeno a médio porte, dificilmente ultrapassando 1 m de comprimento. São muito ágeis e agressivas.
Tamanho: até 1,5 m (comumente não ultrapassam de 1m).
Habitat: encontrada e todo território nacional, com exceção da bacia amazônica.
Observações: conhecida popularmente como jararaca-pintada, jararaca-de-rabo-branco, boca-de-sapo, rabo-de-osso e tirapéia. São serpentes de temperamento agressivo, devendo ter muita cautela quando avistar esse animal.
EXISTE ALGUMA ÉPOCA DO ANO EM QUE OS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS OCORREM COM MAIOR FREQUÊNCIA?
Sim, a época de calor e chuvas é a mais propícia para a ocorrência dos acidentes, pois é quando os animais estão em maior atividade, coincidindo com o período de plantio e colheita agrícola. No inverno o número de acidentes diminui bastante.
QUAIS SÃO OS SINTOMAS DE UMA PESSOA PICADA POR SERPENTE?
No caso de um acidente por jararaca, a região da picada apresenta dor e inchaço, às vezes com manchas arroxeadas e sangramento pelos orificios da picada, além de sangramentos em gengivas, pele e urina. Pode haver complicações como infecção e necrose na região da picada e insuficiência renal. Na picada por cascavel, o local da picada não apresenta lesão evidente, apenas uma sensação de formigamento; dificuldade de manter os olhos abertos, com aspecto sonolento, visão turva ou dupla são os manifestações características, acompanhadas por dores musculares generalizadas e urina escura. O acidente por coral-verdadeira não provoca no local da picada alteração importante; as manifestações do envenenamento caracterizam-se por visão borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento.
COMO PREVENIR ACIDENTES COM SERPENTES?
Não andar descalço;
Olhar sempre com atenção o local de trabalho e os caminhos a percorrer;
Usar luvas de couro nas atividades rurais e de jardinagem. Nunca colocar as mãos em tocas ou buracos na terra, ocos de árvores, cupinzeiros, entre espaços situados em montes de lenha ou entre pedras;
Tampar as frestas e buracos das paredes e assoalhos
Não depositar ou acumular material inútil junto à habitação rural, como lixo, entulhos e materiais de construção;
Manter sempre a calçada limpa ao redor da casa;
Controlar o número de roedores existentes ao redor das casas: a diminuição do número de roedores irá evitar a aproximação de serpentes peçonhentas que deles se alimentam;
Não deve ser feito o manuseio de serpentes vivas. Não tocar nas serpentes, mesmo mortas, pois por descuido ou inabilidade há o risco de ferimento com as presas;
Proteger os predadores naturais de serpentes como as emas, as siriemas, os gaviões, os gambás e cangambás.
MEDIDAS A SEREM TOMADAS EM CASO DE ACIDENTES COM SERPENTES
Lavar o local da picada somente com água e sabão;
Manter o acidentado em repouso. Se a picada tiver ocorrido no pé ou na perna, procurar manter a parte atingida em posição horizontal, evitando que o acidentado ande ou corra;
Levar o acidentado o mais rapidamente possível a um serviço de saúde e/ou ligue para o CIATox/SC (08006435252). O soro é o único tratamento eficaz no acidente ofídico e deve ser específico para cada tipo (gênero) de serpente;
Se possível, levar o animal ou uma foto do animal para identificação;
Não colocar substâncias no local da picada, como folhas, querosene, pó de café, pois elas não impedem que o veneno seja absorvido, pelo contrário, podem provocar infecção;
Evitar que o acidentado beba querosene, álcool ou outras bebidas, pois estas além de não neutralizarem a ação do veneno, podem causar intoxicações;
Não amarrar o membro acometido, fazendo torniquete ou garrote, pois isso dificulta a circulação do sangue podendo produzir necrose ou gangrena e não impede o veneno de ser absorvido;
Não se deve cortar o local da picada. Alguns venenos podem inclusive provocar hemorragias e o corte aumentará a perda de sangue;
Não chupar o local da picada, pois não se consegue retirar o veneno do organismo após a inoculação. A sucção pode piorar as condições do local atingido.
Para faciliar o atendimento, informe ao CIATox/SC:
IDENTIFIQUE-SE: seu nome e número do telefone.
QUEM ? Idade e peso da vítima.
COMO ? Tipo de contato (cutâneo, oral, ocular, etc); circunstância do acidente, acidental ou intencional.
QUANDO ? Hora em que ocorreu a exposição.
ONDE ? Local da ocorrência (residência, ambiente externo, etc).
OBSERVE OS SINTOMAS: que a vítima tenha apresentado.
OUVIDORIA DA SAÚDE SUS/SC
A Ouvidoria da Secretaria de Estado da Saúde de Santa Catarina – Ouvidoria SES/SC, é o meio oficial e legítimo para que o cidadão possa levar suas questões ao conhecimento dos gestores e por meio do qual recebe esclarecimentos e informações em saúde.
Somos um instrumento de participação social e gestão, pois atuamos como um canal de comunicação e um elo entre a população e o poder público. Antes de procurar a Ouvidoria, tente resolver a situação no local onde ele ocorreu, seja no posto de saúde, hospital, secretaria municipal de saúde, etc.
Dessa forma, seu atendimento será muito mais ágil. Qualquer pessoa pode acionar a Ouvidoria. Basta fornecer os dados necessários para o cadastro da demanda. Ao ligar para a Ouvidoria, tenha em mãos o seu Cartão Nacional do SUS, CPF, endereço completo, telefone e e-mail, se tiver.